Carta número 1 - A estudante de odonto e o adesivo universal
enviada 06/10/2025
Conversei recentemente com uma estudante de Odontologia, que está cursando o penúltimo período da graduação. Fiquei bem preocupado!
O assunto era o passo a passo do uso de um adesivo universal.
Ela me disse que, na faculdade, o professor da clínica ensinou que nunca se deve usar jato de ar da seringa tríplice após aplicar o adesivo. Era algo condenável. Proibido.
Num primeiro momento, pensei que ela estivesse brincando. Depois, achei que estivesse apenas enganada. Mas no fim, eu percebi que ela falava sério: a ordem era mesmo “nada de seringa tríplice”. Após a aplicação do adesivo, ela fazia imediatamente a fotoativação. Jurou pela vida da sua santa maezinha que foi assim que aprendeu.
Fiquei pensando: às vezes o problema não é só deixar de aprender as coisas certas. Às vezes, a gente aprende coisas erradas… e na faculdade!
Lembro-me de ter “aprendido” com algum professor que o bruxismo acontecia da seguinte forma: quando o paciente apresentava uma interferência oclusal, que desviava a mandíbula da relação cêntrica (RC) para a posição habitual (MIH), ele rangia os dentes, numa tentativa inconsciente de desgastar esse contato. Uma espécie de “autoajuste”.
Na época, eu comprei essa ideia. Afinal, se o professor disse... amém!
Entretanto, não existe essa relação oclusão/bruxismo da forma como me foi ensinada. Fosse esse o conhecimento vigente quando eu estava na faculdade, tudo bem. Mas esse conceito já estava ultrapassado fazia tempo.
Por que, então, alguns professores ensinam conceitos equivocados, e que já foram demonstrados falsos?
Eu consigo enxergar três motivos principais:
1) Conhecimentos novos, especialmente os que derrubam paradigmas, demoram para se consolidar.
2) A aquisição de conhecimento pode vir de fontes ruins. Pesquisar e selecionar referências de qualidade é uma habilidade que nem todos os professores dominam — e, sem esse cuidado, é fácil confundir o joio com o trigo;
3) Muitos profissionais (incluindo professores) simplesmente não estudam, não se atualizam. Sentam-se sobre seus diplomas ou cargos públicos e acreditam que já sabem o suficiente.
Voltando ao tema dos adesivos…
Sabemos, há muito tempo, que uma das etapas mais importantes da utilização de adesivos simplificados é a evaporação dos solventes. E a forma mais efetiva para fazer isso é utilizando o jato de ar (mas por favooooor – sem nada de água ou óleo saindo junto!).
Se você tem dúvida do que é um adesivo simplificado, aqui vai uma explicação simplificada: é todo adesivo que possui o primer e o bond no mesmo frasco. Estou falando, então, da 5ª e da 7ª gerações, além dos adesivos universais (considerados por alguns autores como 8ª geração).
Todos esses materiais têm algo em comum: são misturas com características hidrofílicas, devido à presença de água e solventes orgânicos.
O ideal é que toda a água e solvente sejam completamente evaporados após a aplicação do adesivo, antes da fotoativação. Com isso, restam apenas os monômeros resinosos, que se ligam entre si, formando um polímero, ao mesmo tempo em que se unem ao esmalte e à dentina. Assim nasce a camada híbrida, que deve(ria) ser uma zona hidrofóbica.
Permanecendo água e solvente residuais na camada do adesivo que foi polimerizado, é de se esperar uma menor durabilidade da união adesiva.
Ao usar um adesivo universal, além de aplicá-lo de forma ativa (esfregando), especialmente sobre a dentina, remova os excessos e faça uma boa e longa evaporação dos solventes.
Se você quer se aprofundar no tema dos adesivos universais, eu tenho um vídeo sobre isso. O link está aqui abaixo. Espero que goste.
P.S.: Deixei também um botão caso você queira acessar o Arquivo de Cartas. É lá que vou guardar todas “cartas” que escrever para você. O arquivo ainda está quase vazio, mas é porque estamos só começando… 😊
Até a próxima carta.

