Carta número 2 - O poder de um Checklist
enviada 27/10/2025

Em 2019, li um livro que me marcou: Checklist, do Atul Gawande.

Quero compartilhar com você a ideia central por trás da criação de checklists, o motivo de eu ter me tornado adepto dessas listas e — o mais importante — como isso pode te ajudar no consultório.

Talvez você já tenha passado por uma situação semelhante: no meio de um atendimento, percebe que está faltando um item importante. Um microbrush, sua espátula preferida, o cabo de bisturi, uma matriz, o adesivo, ou alguma outra coisa.

Você (ou sua auxiliar) precisa parar o que está fazendo para pegar o material. Com sorte, ele está acessível. Ainda assim, isso quebra a dinâmica do atendimento.

Um cenário ainda pior: ninguém sabe onde o item está. Começa o abre e fecha de gavetas. Pode até ser que você não tenha no consultório – por exemplo um material que acabou e você esqueceu de comprar. O procedimento é interrompido, você perde o ritmo. Talvez o paciente até perceba. A sensação é de desorganização — e isso poderia ter sido evitado, ou bastante minimizado, com o uso de um checklist.

O livro mostra que, em ambientes complexos, confiar na memória não é suficiente. A falta de protocolo pode causar erros, mesmo entre profissionais experientes. E a solução mais eficaz, segundo o autor, costuma ser simples: uma lista clara e objetiva, usada de forma disciplinada.

Na Odontologia, checklists também funcionam muito bem. Eles antecipam os passos, organizam o raciocínio e tornam o atendimento mais fluido. Criam um senso de ordem.

O checklist normalmente é uma relação de coisas que você vai dando check à medida que executa. No nosso caso, pode ser apenas um lista com as coisas que precisam ser separadas antes do atendimento.

Eu tenho muitos checklists. Aqui estão alguns exemplos:

- cimentação – peça de resina,
- restauração direta em resina composta - anterior,
- restauração direta em resina composta – posterior,
- limpeza,
- clareamento de consultório,
- cirurgia de terceiro molar,
- extração simples,
- moldagem com silicone de adição,
- selamento dentinário imediato
- elevação de margem profunda,
- provisório sobre implante,
- mock-up,
- primeira consulta.

Eu tenho muitas outras listas. Sim, eu sou aquele sujeito maluco, cheio de manias.

Recomendo que você faça seu primeiro checklist no papel. Foi assim que eu fiz a maioria. Depois é que eu passo para o computador, organizo e imprimo.

Eu tenho uma pasta catálogo, com plásticos do tamanho A5. Mas você pode fazer do seu jeito. Até num caderno convencional funciona muito bem.

O melhor momento para criar um checklist é no campo de batalha: durante o atendimento. Deixe um papel e caneta por perto e vá anotando os itens conforme usa. Dá um pequeno trabalho extra no momento, mas você faz isso uma única vez e colhe os benefícios por muito tempo.

Você pode ainda fazer checklists de outra natureza. Use a criatividade. Pode ter listas dos passos clínicos de um procedimento, o que é excelente para quem está começando.

Pode criar também checklists de “conduta”, como a saída de material para o laboratório, o fluxo correto na esterilização, a limpeza do consultório. Vou te dar um exemplo: quando eu tenho um paciente de primeira consulta (avaliação inicial), a minha auxiliar simplesmente pega o checklist e só segue o que está escrito.

Ela já sabe o passo a passo e isso facilita muito a minha vida (e a dela). Eu fui descrevendo como eu quero que seja feita abordagem do paciente. Ela leva as fichas para ele preencher na recepção e sabe o que fazer até no momento da saída do paciente.

“Ah, Moacir, mas eu tenho um tablet para o paciente preencher a ficha”. Tudo bem! Isso aqui não é sobre o checklist em si. É sobre fazer e ter checklists. Cada um vai criar o seu, do seu jeito.

E se você trabalha numa clínica ou atende sozinho(a)? Considero também essencial. Separar antes o que está na lista evita interrupções desnecessárias e mantém um ritmo adequado no procedimento.

Esse processo não tem que ser perfeito. Muitas vezes a coisa desanda. Você (ou a auxiliar) esqueceu de pegar algo... pode ser que o seu checklist estava incompleto... Como tudo na vida, vamos aprendendo e aperfeiçoando aos poucos. Checklists não são sobre controle rígido. São sobre fluidez.

Uma das coisas que mais gosto em checklists é algo que eu chamo de “desproporção esforço/resultado”. Eu explico: é o fato de realizar um trabalho inicial, que vai demandar um único esforço, mas que vai servir por muito tempo.

Não sei qual a sua principal área de atuação como dentista, mas uma coisa eu tenho certeza: os checklists irão te ajudar; eles te farão uma pessoa mais organizada (me fizeram).

Você pode começar hoje mesmo montando o seu primeiro checklist. Como eu disse, comece com um rascunho, pois à medida que vai escrevendo, vai lembrar de algo que ficou de fora. Então você vai acrescentando, até ter uma versão final.

Para facilitar esse processo, vou deixar aqui abaixo 2 links:

- Se você tem costume de usar o Canva: só precisa baixar o modelo e editar. Deixe no computador para ir acrescentando itens e criando novos checklists. Se quiser, pode exportar e imprimir, como eu fiz.

- Se você não sabe usar ou não gosta do Canva: esse é um modelo em branco (em PDF). É só baixar, imprimir algumas cópias e preencher à mão (imprima no tamanho A4 ou A5, de acordo com sua conveniência).

Espero que isso te ajude no consultório.

Um abraço. Até a próxima carta.