Carta número 3 - O conteúdo rápido está destruindo o seu cérebro
enviada 21/11/2025

Ontem eu estava relendo um texto que tenho encadernado: "Uma breve história da Oclusão".

(Esta carta não é sobre oclusão, mesmo assim não vou perder a oportunidade de deixar para você, que gosta ou trabalha com oclusão, o PDF dessa apostila 😊).

Após alguns minutos de leitura, tive uma reflexão – não sobre o tema em si, mas sobre o tempo em que vivemos, o mundo das redes sociais, do conteúdo rápido, do prazer imediato. Foi assim que esta carta surgiu.

Costuma-se dizer que, hoje em dia, as pessoas leem pouco. Isso é um engano. Nunca se leu tanto na história.

O problema é o tipo de leitura. As pessoas leem o tempo todo coisas superficiais, rasas. Muitas headlines (títulos), muita legenda de reels e tiktok, as 3 primeiras linhas de um post, e muitos, muitos, muitos comentários de outras pessoas.

Tem algo de errado com isso? Não exatamente. Cada um é livre para ler o que quiser. Mas prejudica – e muito – quem busca evoluir, crescer, se aprofundar e ter resultados positivos.

Não há como você evoluir em NADA lendo só o superficial. Especialmente quando você busca crescimento em alguma área de conhecimento técnico-científico. Compreensão exige densidade.

E pior: muitas vezes vemos um conteúdo na rede social e achamos que aprendemos algo. Ficamos maravilhados. Mas se nos pedirem para escrever um parágrafo sobre o assunto ou explicar detalhadamente para outra pessoa, não conseguimos.

Esse fenômeno de você achar que aprendeu é a “ilusão de competência”. Ocorre exatamente quando a pessoa acredita que aprendeu algo apenas porque entendeu superficialmente ou reconheceu a informação, quando na verdade ainda não é capaz de explicá-la nem de aplicá-la.

Por isso é que posts de Instagram são tão inúteis em ensinar algo. Ah, uma dica, um hackzinho, pode até ser. Mas aprender de verdade demanda tempo, exige colocar a bunda na cadeira e focar, desligar-se do mundo externo e acessar um estado de concentração tão escasso no mundo atual.

A sociedade moderna é organizada para nos dar prazer instantâneo o tempo todo. E isso está nos deixando mais ansiosos, distraídos e infelizes. Recuperar o controle exige reduzir estímulos, aceitar o desconforto e reconstruir a relação entre esforço e resultado.

Vivemos numa eterna luta entre o nosso “eu do presente” e o nosso “eu do futuro”. Os dois estão sempre em conflito. O seu “eu do presente” só quer prazer imediato, rolar o feed do Instagram, ver séries e comer junk food. É um procrastinador profissional.

Por outro lado, o seu “eu do futuro” está interessado em progresso, crescimento... está olhando para a recompensa futura, que é fruto do esforço de hoje.

Se você não colocar ordem nessa relação entre os dois “eus”, o de agora quase sempre vence — porque é impulsivo e biologicamente desenhado para buscar dopamina barata e imediata. Não é que você precisa enterrá-lo. Ninguém é de ferro 😅. Porém, é importante estabelecer limites claros. Quanto mais ele está no comando, mais ele estará no comando. Ele ganha força, é como uma bola de neve.

O cérebro está constantemente sendo treinado para buscar o prazer imediato.

O resultado prático disso é que muitos profissionais já não conseguem mais se sentar e estudar de verdade — não estou falando de quem tem que estudar para passar em um concurso (esses não têm outra opção), mas estou me referindo aos profissionais que precisam se atualizar, melhorar tecnicamente, evoluir na profissão.

Sentar-se para estudar virou uma tarefa desestimulante e tediosa; até mesmo dolorosa para muitos.

A boa notícia é que isso é treinável. O nosso cérebro é elástico. Ele é uma máquina de aprender com nossas próprias experiências.

É difícil, mas podemos (e devemos) competir com a explosão de excitação cerebral que experimentamos a cada novo reels, a cada novo episódio, a cada novo story.

Precisamos buscar o tédio e acolher o desconforto como prática deliberada. Tédio é o terreno onde a atenção se reconstrói; desconforto é o preço a ser pago para o aprendizado real.

Dicas práticas para colocarmos nosso “eu do presente” de castigo 😅:

  • Desligue as notificações do celular, limite o uso diário de redes sociais, evite microconteúdos.

  • Marque blocos curtos de foco (15–25 min) para estudar; e alongue esse tempo aos poucos.

  • Troque parte do “consumo passivo” por “produção”: ao estudar, anote, faça como se estivesse montando uma aula para ensinar a alguém (você vai se surpreender com o aumento da sua taxa de retenção sobre o assunto estudado).

  • Inclua micro-desafios desconfortáveis na sua rotina: ler um livro por 15min, exercício físico, silêncio sem celular, pular o café da manhã (eu sou um adepto e defensor do jejum intermitente, pois ele melhora a nossa saúde, nos torna mais disciplinados e nos expõe ao desconforto – mas isso é outro assunto).

O que você vai fazer hoje para frear o seu “eu do agora”? 👀

Quer um estímulo para (re)começar? Assista a um vídeo um pouco mais longo. Deixei logo aqui abaixo para você… é só clicar.

No vídeo, eu falei sobre como usar o adesivo Optibond FL do jeito certo.

Quando perceber que começou a se distrair, apenas volte a atenção para o que está sendo dito. Esse vai e volta, retornando de um estado de distração para o modo foco, é um bom treinamento para se manter atento(a) ao momento presente.

Clique na imagem acima para assistir ao vídeo

Espero que esse texto te ajude de alguma forma.

Te vejo na próxima carta.

Ah, aqui abaixo está o texto sobre oclusão que te falei no início da carta. É só clicar para baixar.